Crescer É Fudido

“Crescer É Fudido”: pressões, família e sobrevivência

Mais que um desabafo, “Crescer É Fudido”, de Rei Bravo, confronta escolhas pessoais com um sistema que sabota o jovem adulto moçambicano. Lançada em 2021 no álbum “Livro do Game”, a faixa encadeia experiências do artista: paternidade precoce, desemprego e dinheiro curto. A linha “na rua só tem pais miúdos” tem duplo sentido — adolescentes já com filhos e homens feitos, mas imaturos. A voz da mãe — “já és adulto… até quando vais viver tipo tens 17?” — cobra responsabilidade, enquanto ele reconhece os efeitos da própria vida: “vários filhos com mãe diferentes”, “damas que só querem sujar tua cama” e relações movidas pela “fama”. Em casa, a pressão social por família perfeita pesa; a esposa convivendo com a sogra vista como “bruxa” e cobranças que ele não consegue suprir reforçam o refrão: “crescer é muito mais do que ter idade”.

Na parte estrutural, sair “da rua” para a faculdade noutra cidade traz “dispensa vazia”, “propinas” (mensalidade) em atraso e “um único par de sapatos”. Ele precisa escolher entre pagar a renda, comer ou enviar dinheiro aos filhos em Lichinga. Quando a faculdade termina, o mercado exige “cinco anos de experiência”, há vagas “à venda”, valem “costas quentes” e surge a tentação de “vender a tua alma” — imagens de nepotismo e corrupção. Exausto, ele cogita voltar às “batalhas de rap”, sinal de portas fechadas na vida adulta. Ainda assim, o refrão reafirma: maturidade é aprendizado doloroso, mais profundo que idade; crescer é “fudido” porque junta culpa, responsabilidade e um ambiente socioeconômico que puxa para baixo.