Balacobaco

Ironia e crítica social em "Balacobaco" de Rita Lee

Em "Balacobaco", Rita Lee utiliza a ironia para transformar a rotina difícil e muitas vezes invisível da empregada doméstica em algo "do balacobaco" — expressão que, segundo a própria artista, pode significar tanto algo animado quanto problemático ou escandaloso. Essa ambiguidade reforça o contraste entre a dureza do cotidiano da personagem e a maneira espirituosa com que ela enfrenta as adversidades. Um exemplo disso aparece nos versos “Minha cara de caveira / Vai abrir a geladeira / Esqueci de fazer feira / Vou fuçar lá na lixeira”, que expõem a precariedade com um humor ácido e direto.

A música aborda de forma leve e sarcástica temas como desigualdade social e a resiliência de quem vive à margem, evidenciados em frases como “Vida dura de empregada” e “Sou escrava independente / Ganho menos que indigente”. O refrão “Pára o mundo que eu quero descer” expressa o desejo de escapar dessa realidade, enquanto “Meu borogodó é do Balacobaco” revela o orgulho e a força da protagonista, que mantém sua autoestima apesar das dificuldades. Rita Lee também ironiza estereótipos e situações do cotidiano, como as investidas dos homens do prédio e as peculiaridades da família para quem trabalha, usando o bom humor para tratar de temas sérios, como o medo da violência e a exploração do trabalho doméstico.

O uso de expressões populares e gírias aproxima a narrativa do universo brasileiro, tornando a personagem ao mesmo tempo única e representativa de tantas mulheres. Ao final, "Balacobaco" equilibra crítica social e leveza, mostrando que, mesmo diante das dificuldades, a protagonista não perde o espírito combativo nem a capacidade de rir de si mesma e do mundo.