Tia

Resistência e esperança diante das dívidas em “Tia”

Em “Tia”, RJ Kanierra transforma a repetição da palavra-título em um símbolo de resistência diante das dificuldades financeiras e da espera por justiça salarial. A música reflete a realidade de muitos trabalhadores congoleses que, sem receber salários do Estado, acabam se endividando e vivendo na expectativa de uma solução. Isso fica claro em versos como “Neti agent ya l'État ba futaka té / Ba arriérés na biso eleki ebelé / Ezo pesa kanda mais choix eza té” (Os funcionários do Estado não pagam / Nossos atrasados são muitos / Isso dá raiva, mas não há escolha), que expressam a frustração e a falta de alternativas diante do sistema.

A letra também mostra como, mesmo endividado, o personagem escolhe continuar vivendo e se divertindo, como nos versos “weka miziki (tia) ni ingiye deni (tia) / Ni bebe deni (tia), l'État ata lipa (tia miziki, tia)” (coloca música, manda ver, estou entrando na dívida, manda ver, estou carregando dívida, manda ver, o Estado vai pagar, manda ver música, manda ver). O verbo “tia” (“coloca” ou “manda ver”) sugere uma atitude de seguir em frente apesar das dificuldades, quase como um convite coletivo para não se deixar abater. A menção a Deus em “Nzambe Nkolo yomoko oloba / Po nga naliya il faut natoka” (Só Deus pode falar / Para eu chorar, preciso explodir) traz um tom de desabafo, resignação e esperança, mostrando que a fé é um dos poucos refúgios diante da precariedade. Assim, “Tia” mistura crítica social, humor e otimismo, o que explica sua forte conexão com o público e o sucesso nas redes sociais.