Cimarrón

Resistência e ancestralidade em "Cimarrón" de Robe L Ninho

"Cimarrón", de Robe L Ninho, inverte a narrativa histórica tradicional ao denunciar o genocídio indígena e a escravização africana, em vez de celebrar o chamado "descobrimento" da América. O artista chama Cristóvão Colombo de "invasor" e exige que ele "componte" (se comporte, se corrija), deixando claro seu posicionamento crítico. A repetição do verso "soy un cimarrón y me voy pa'l monte" (sou um cimarrão e vou para o mato) resgata a figura dos escravizados fugitivos que buscavam liberdade em quilombos e palenques, símbolos de resistência e rejeição à submissão. Robe L Ninho conecta essa luta histórica à atualidade ao afirmar "cuando llego, las cadenas se rompen" (quando chego, as correntes se rompem), mostrando que a presença e a voz afrodescendente ainda são forças de transformação social.

A letra destaca nomes de líderes e territórios históricos da resistência afro, como Catalina Luango, Harriet Tubman, Nzinga Mbandi, Benkos Biohó, Palenque de Benkos e Zumbi dos Palmares, reforçando a ancestralidade e a continuidade da luta. Ao dizer "nuestra realeza ancestral exige reivindicación / pues la historia afro no comienza en la esclavización" (nossa realeza ancestral exige reconhecimento, pois a história afro não começa na escravização), o artista combate a ideia de que a história negra se resume à escravidão, reivindicando uma herança de dignidade. O refrão "descolonización mental / enseñando a desaprender / afrosembrando" (descolonização mental / ensinando a desaprender / semeando o afro) aponta para a necessidade de reeducação e valorização da identidade afro. A gravação do clipe em San Basilio de Palenque, primeiro povoado livre das Américas, reforça o compromisso do artista com a memória e a resistência afrodescendente. "Cimarrón" se apresenta como um manifesto de orgulho, combate ao racismo e reescrita da história a partir da perspectiva dos oprimidos.