Abrigo

A dualidade da ausência em "Abrigo" de Roberta Campos

"Abrigo", de Roberta Campos, aborda a solidão sob uma ótica sensível e pouco convencional. Em vez de tratar a ausência apenas como sofrimento, a música sugere que ela também pode reforçar o amor por quem está distante. O verso “Concordo com a solidão, ela afirma todo amor” mostra como a falta do outro intensifica o sentimento, tornando a ausência uma espécie de prova da profundidade desse vínculo. A colaboração entre Roberta Campos e Fernanda Takai contribui para o tom introspectivo e delicado da canção.

A letra revela a dificuldade de lidar com a ausência, como nos trechos “Sei que nunca vou me acostumar” e “Me atrapalho, desconfio dos efeitos dessa ausência”, evidenciando o impacto emocional da saudade. O refrão alterna entre “vida fácil” e “vida frágil”, indicando que, mesmo em momentos aparentemente tranquilos, a fragilidade causada pela falta do outro está sempre presente. O videoclipe, inspirado em “Alice no País das Maravilhas” e “As Viagens de Gulliver”, reforça visualmente essa sensação de deslocamento e vulnerabilidade, mostrando a artista em diferentes tamanhos dentro de um apartamento, o que simboliza como a ausência pode distorcer a percepção do espaço e da rotina.

No final, a música assume um tom mais doloroso e resignado: “Sozinha vou me acabar nessa espécie de tortura que esvazia o coração”. Aqui, a solidão deixa de ser apenas uma confirmação do amor e se transforma em sofrimento intenso, evidenciando a dualidade entre a doçura da lembrança e o peso da ausência. "Abrigo" se destaca por transformar sentimentos comuns em uma reflexão delicada sobre saudade e busca por conforto emocional.