Doing It Too

Reciprocidade em “Doing It Too”, de Rochelle Jordan

A faixa transforma um “jogo de casal” em regra de igualdade: ela decide espelhar o que recebe como princípio, não como vingança. Isso aparece já no título “Doing It Too” — que pode ser tanto “fazer igual” quanto “fazer/curtir também”. A ideia ecoa o que Jordan disse à imprensa (DJ Mag): “Se é bom para você, é bom para mim também”. No refrão, “Whatever you do… I’ll be doing too” (Tudo que você fizer... eu vou fazer também) torna literal essa reciprocidade; e “Boys will be boys, but the girls will too, and the girl should too” (Garotos serão garotos, mas as garotas também serão, e a garota também deveria) confronta o duplo padrão de gênero. Quando afirma “what you’re showing me is no apologies, no rules” (o que você me mostra é: sem desculpas, sem regras), ela apenas reflete as condições impostas pelo parceiro. E “I’m not too much, you just give too little” (eu não sou demais; você é que dá de menos) desloca o foco da retaliação para autovalor e limites claros.

O clima é de desapego tranquilo — “You would think I’m trolling… with no remorse” (você pensaria que estou te provocando... sem remorso) — embalado por uma produção que convida ao corpo. A homenagem ao UK garage surge no balanço 2-step e no pulso 4/4 do house de Chicago, uma base que dialoga com o espelhamento: passo a passo, batida a batida. Com Initial Talk, KLSH e Byron The Aquarius na produção, a estética R&B 90s/garage sustenta a postura fria enquanto ela devolve na mesma moeda: “Run it back, I do the exact things that you do” (bota de novo, eu faço exatamente o que você faz). O duplo sentido de “doing it” atravessa a faixa — pode ser agir igual no relacionamento, envolver-se fisicamente ou dominar a pista — e “rolling on a whole new dude” (curtindo um cara completamente novo) deixa essa liberdade explícita. Resultado: um manifesto dançante de mutualidade.