Carrocinha de Cachorro-Quente

O grotesco cotidiano em “Carrocinha de Cachorro-Quente”

“Carrocinha de Cachorro-Quente”, de Rogério Skylab, transforma uma cena comum – um vendedor de cachorro-quente – em um retrato exagerado e desconfortável do cotidiano. Ao descrever o vendedor “enfiando a mão dentro da calça” e depois “coçando o cu com a mão”, Skylab faz uma crítica direta à falta de higiene, mas também usa essa imagem como metáfora para a negligência e o descaso presentes em situações rotineiras. O artista aposta no humor negro e no exagero para provocar tanto desconforto quanto risos, convidando o ouvinte a enxergar o grotesco como parte da vida real.

A música segue com perguntas repetitivas, como “Tomou? No cu?”, e apresenta personagens caricatos, como Clarice, “esguia, magérrima... mas tem uma trolha!”. Essas passagens brincam com tabus sexuais e expressões chulas, escancarando o absurdo das convenções sociais e das conversas do dia a dia. O uso insistente da palavra “buceta” como resposta para qualquer pergunta reforça o tom nonsense e ironiza a superficialidade de certos diálogos e a obsessão com temas sexuais. No final, Skylab mistura confissão pessoal e autodepreciação ao dizer que tentou ser o que a mãe queria, mas tudo ficou “meio escalafobético” e “patético, se não fosse Pateta”. O episódio do marimbondo picando a bunda do narrador simboliza como situações inesperadas e desconfortáveis podem invadir até os momentos mais banais. Assim, Skylab usa o grotesco e o humor escrachado para questionar normas, expor hipocrisias e provocar reflexões sobre o cotidiano e a moralidade.