Samba

Referências literárias e ironia urbana em "Samba" de Rogério Skylab

Em "Samba", Rogério Skylab faz uma mistura inusitada de referências literárias sofisticadas e situações cotidianas do Rio de Janeiro. Ao citar "Catatau", de Paulo Leminski, e se comparar a Ulisses da Odisseia atravessando a Avenida Rio Branco, Skylab ironiza a grandiosidade das jornadas clássicas ao trazê-las para o contexto trivial de quem enfrenta blitz policial e desemprego. A escolha de "Catatau" reforça o tom experimental e caótico da música, já que o livro de Leminski é conhecido por sua estrutura fragmentada e linguagem desafiadora, características que também aparecem na canção.

A letra se aproxima do universo popular ao usar gírias como "palpos de aranha" (situações complicadas) e "ver navios" (estar perdido), além de frases provocativas como "gosto é de ficar deitado com o meu peru na mão", que evidenciam o humor ácido e a irreverência sexual de Skylab. A menção à banda "Zumbi do Mato" conecta a música a uma tradição de artistas que desafiam convenções e apostam no absurdo. O refrão, "Honey baby é o caralho / O meu samba é assim", reforça o tom debochado e a recusa de padrões. No fim, Skylab celebra um samba que é expressão de alienação, crítica social e liberdade criativa, rompendo com expectativas e valorizando o inusitado.