exibições de letras 1.223

Crônica do Natal Caipira (Monólogo do Natal)

Rolando Boldrin

LetraSignificado

    Eu não gosto de vancê, Papai Noé!
    Tamém não gosto desse seu papé
    De vendê ilusão pra tár da burguesia
    Se os meninu pobre da cidade
    Soubessem o desprezo qui o se tem
    Pelos humirde, pela humirdade
    Eu acho que eles jogavam pedra em sua fantasia

    Tarvez vancê nem se alembra mais
    Eu cresci, me tornei rapaz
    Sem nunca me esquecê daquilo que passô
    Eu lhe escrevi um biete pedindo meu presente
    A noite inteira eu esperei contente
    Chegou o sór, mais vancê num chegô

    Dias depois, meu pobre pai, cansado
    Me trouxe um trenzinho véio, enferrujado
    E me ponhô ansim na minha mão
    E me oiando baixinho me falô
    Toma, é pra vancê, foi Papai Noé que mando

    E vi quando ele adisfarçô umas lágrima com a mão
    Eu alegre e inocente nesse caso
    Pensei que o meu biete embora com atraso
    Tinha chegado em suas mão, no fim do mês

    Limpei ele bem limpado, dei corda
    O trem partiu, deu muitas vorta
    Meu pai então se riu e me abraço
    Pela úrtima vez

    O resto, eu só pude compreendê quando cresci
    E comecei a vê as coisa com a realidade
    Um dia meu pai chegô ansim
    Com quem tá com medo e falou pra mim

    Me dá aqui aquele seu brinquedo
    Dá aqui, vou trocá por outro na cidade
    Então eu entreguei pra ele
    Meu trenzinho quase a soluçá

    E como quem não qué abandoná um mimo
    Um mimo que lhe deu, quem lhe qué bem
    Eu supliquei medroso, ô pai eu só tenho ele!
    Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele
    Por favor pai, num vá levá meu trem?

    Meu pai calo-se
    E pelo seu rosto veio descendo uma lágrima
    Que inté hoje creio, tão pura e santa ansim
    Só Deus chorou

    Ele saiu correndo, bateu a porta
    Ansim como um doido varrido
    Minha mãe gritou; pra ele: José! Ele num deu ouvido
    Foi-se embora e nunca mais vortô

    Vancê, Papai Noé, vancê me transformô
    Num homem que hoje a infância arruíno
    Sem pai e sem brinquedo
    Afiná, dos meus presente não não ai um que sobre
    Da riqueza de um menino pobre
    Que sonha o ano inteiro com a noite de Natá

    Meu pobre pai, coitado, mar vestido
    Pra não me vê naquele dia desiludido
    Pagô bem caro a minha inlusão
    Num gesto nobre, humano e decisivo
    Ele foi longe demais pra me trazê aquele lenitivo
    Tinha robado aquele trem do fio do patrão

    Quando ele sumiu, pensei que tinha viajado
    No entanto, minha mãe despois de eu grande
    Me contou em pranto que ele foi preso, coitado
    E tranformado em réu
    Ninguém pra absorvê meu pai se atrevia
    Ele foi definhando na cadeia
    Inté que um dia Deus entrô na sua cela e libertô pro céu

    Composição: adaptação Rolando Boldrin / Aldemar Paiva. Essa informação está errada? Nos avise.

    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Rolando Boldrin e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção