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A Morte do Andarilho

Rui Carlos Ávila

Letra

    Chegou um dia na estância
    Um índio já bem tordilho
    Pelo visto um andarilho
    Desses viventes sem norte
    Um deserdado da sorte
    Que vive nos corredores
    Sem sonhos e nem amores
    Negaciando a própria morte

    Pediu somente pousada
    Um poncho velho, um pelego
    Pra uma noite de sossego
    Antes de voltar a estrada
    Não conversou com a peonada
    Não quis mate nem comida
    Nada falou da sua vida
    Também não perguntou nada

    O primeiro madrugador
    Que botou os ossos de ponta
    De vereda se deu conta
    Que faltava um no galpão
    Só ficara sobre o chão
    As tralhas onde dormiu
    Muito cedo ele partiu
    Como se fosse um fujão

    Mais tarde o patrão nervoso
    Perguntava pra peonada
    Por uma tal faca prateada
    Que há anos o acompanhava
    Tinha certeza que estava
    Com os arreios no galpão
    E ali não tinha ladrão
    Disso o velho se orgulhava

    O capataz malicioso
    Foi quem armou o sarilho
    Deve ter sido o andarilho
    Que saiu meio fugido
    O patrão já enfurecido
    Na hora deu-lhe razão
    E pensou que a acusação
    Bem que fazia sentido

    Mandou encilhar o flete
    Não mateou com a peonada
    Pegou o rumo da estrada
    Com raiva e ódio no olhar
    Nada mais do que esperar
    Restava pra os que ficaram
    Alguns mais crentes rezaram
    Pro infeliz escapar

    Se soube tempos depois
    Que o patrão naquele dia
    Com toques de covardia
    Matara o pobre coitado
    Depois havia enterrado
    Numa simples cova rasa
    Que ao voltar pra casa
    A faca tinha encontrado

    O que está feito, está feito
    Não conserto ou remendo
    A estância toda foi vendo
    A cura de uma ferida
    Toda a peonada na lida
    Foi varrendo da memória
    A crueldade da história
    Que por fim foi esquecida

    Era um final de domingo
    Dez anos tinham passado
    Passou na cancela um pingo
    Num trote bem compassado
    Num basto vinha plantado
    Um moço desconhecido
    Barba e cabelo comprido
    Mas por demais bem pilchado

    Deu buenas pra peonada
    Já apeando do cavalo
    E num entono de galo
    Já enveredou pro galpão
    Mandou chamar o patrão
    Com jeito de quem governa
    E logo o peão bateu perna
    Sem fazer embromação

    Num passo meio cansado
    Chegou enfim o patrão
    E quando entrou no galpão
    Sentiu o sangue gelar
    Ficou na frente de um olhar
    Que era um prenúncio de morte
    Não chegou a ver o corte
    Nem a garganta sangrar

    Levaram o corpo pra casa
    Tentando em vão socorrer
    E aí não puderam ver
    Quando o moçito montou
    E levemente esporeou
    Convidando seu cavalo
    No mesmo entono de galo
    Que tinha quando chegou

    Foram anos de procura
    Sem saber notícia
    Até o chefe da polícia
    Desistiu porque cansou
    Mas segundo se apurou
    O tal moçito era filho
    Daquele velho andarilho
    Que um dia o patrão matou

    Composição: Gargione Ávila / Rui Carlos Ávila. Essa informação está errada? Nos avise.

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