Nada Mais Importa

Desapego e ditados populares em “Nada Mais Importa”

Em “Nada Mais Importa”, do Samba com Atitude SA, o refrão não é frieza, mas libertação com desejo de felicidade ao outro. A canção usa ditados de forma estratégica para transformar mágoa em aprendizado e encerrar a história sem revanche. “Se outro amor fizer chover na sua horta, faça o favor de ser feliz” une generosidade e coloquialismo: no uso popular, “fazer chover na sua horta” é trazer benefícios ou alegria, e aqui vira um voto sincero ao ex-parceiro. A mesma lógica aparece em “é o nosso adeus escrito certo em linhas tortas”, aceitando que o fim é o desfecho correto após um caminho confuso. Há acerto de contas — “teu amor não valeu... este pranto você fez por merecer” —, mas o foco é seguir adiante: “o meu olhar, de tão sofrido, já secou” e “o que eu chorei só me ajudou a te esquecer”.

A virada emocional se ancora em expressões populares que selam a decisão. “Pois agora já é tarde, Inês é morta” fecha a porta, alinhada ao sentido consagrado do ditado; “nasceu torto e ninguém mais desentorta” ecoa o proverbial “pau que nasce torto”; e “quando o mal é na raiz a gente corta” expande a metáfora da horta/raiz para justificar um corte definitivo. Há ainda um trocadilho discreto em “nossa rima já não faz nenhum sentido”, desmontando a ideia de parceria que rimava e agora desafina. Embora “fazer chover na sua horta” possa ter leitura maliciosa em outros contextos, aqui prevalece o desejo sereno de que o outro encontre alegria. No conjunto, a voz assume o fim com firmeza, aprende com a dor — “foi assim que eu aprendi”/“aprendi outra lição” — e estabelece um clima de desapego tranquilo: terminou, está resolvido, a vida segue sem ilusões.