Império Serrano 2026 - Hamilton Fofão

Literatura negra e ancestralidade em “Império Serrano 2026 - Hamilton Fofão”

A música “Império Serrano 2026 - Hamilton Fofão”, do Samba Concorrente, ressalta o poder da palavra nascida na favela e forjada pela experiência negra, mostrando como ela pode reescrever a história e desafiar o silenciamento imposto pelo racismo estrutural. O verso “Sou eu, a flor do mulungu” faz referência ao romance “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo, homenageando tanto a autora quanto a força simbólica da mulher negra que floresce mesmo diante das adversidades. O conceito de “escrevivências”, central na obra de Evaristo, aparece na letra como “Entregue às palavras e ao axé das ancestrais”, destacando que a escrita negra é carregada de ancestralidade e resistência.

A canção também valoriza elementos da cultura afro-brasileira, como as menções a Oxum e à Folia de Reis, para afirmar a identidade e a espiritualidade negra. Ao afirmar “Meu verbo é ouro de aluvião / Meu verso é barro de artesão”, a letra compara a produção literária negra a tesouros encontrados no cotidiano e moldados com as próprias mãos, ressaltando sua riqueza e originalidade. O trecho “Sou eu quem dá voz à caneta que silencia o fuzil” evidencia o poder transformador da literatura diante da violência, enquanto “A gente combinamos de não morrer!” ecoa a célebre frase de Conceição Evaristo, reafirmando o compromisso coletivo com a sobrevivência e a afirmação da vida negra. O samba, assim, celebra a escrita sem censura e a potência da literatura negra, transformando a Serrinha em um espaço de saber popular e resistência.