Nem Negro Nem Branco

Identidade e crítica social em “Nem Negro Nem Branco”

A música “Nem Negro Nem Branco”, do Samba de Raiz, questiona a ideia de que a identidade brasileira pode ser resumida a uma mistura homogênea. A letra desafia o conceito de “democracia racial”, mostrando que, na prática, essa noção serve para esconder desigualdades e o racismo estrutural presentes no país. O verso “Nem todo negro, nem todo branco / Entre os extremos sempre há mais espaço” destaca a crítica à tentativa de apagar as diferenças raciais, sugerindo que a realidade é muito mais complexa do que simplesmente negar as categorias raciais. Esse posicionamento dialoga diretamente com o contexto brasileiro, onde a miscigenação é frequentemente usada como argumento para negar o racismo, mas acaba invisibilizando as dificuldades enfrentadas por grupos específicos.

A música também aborda temas como violência e desigualdade social. Trechos como “E a contar os mortos para matar mais rápido” e “Na rua se ouve muitos prantos / Todos os governos cheios de gusanos” (vermes) reforçam a crítica à corrupção e à ineficácia dos governos diante do sofrimento da população. A ironia aparece em “Com a policia tudo solucionado / Para os problemas: xarope de pau”, que aponta a repressão policial como resposta padrão aos problemas sociais. Já “De vergonha o céu se rompeu em pedaços” expressa um sentimento coletivo de desilusão diante da injustiça. Ao utilizar o samba, um gênero profundamente ligado à cultura afro-brasileira, a canção também chama atenção para a importância de reconhecer e valorizar as raízes negras do samba, evitando sua descaracterização e apropriação sem o devido reconhecimento histórico e cultural.