Porto da Pedra - Samba-Enredo 1997

Criação e loucura em “Porto da Pedra - Samba-Enredo 1997”

O enredo de 1997 da Unidos do Porto da Pedra transforma a “loucura” em motor criativo e também em estética da escola. O verso “eu canto, eu pinto, eu bordo” remete aos bordados de Bispo do Rosário e à Sapucaí como ateliê. Quando surge “Eu vi sair, de um pavilhão em São Gonçalo”, há duplo sentido entre o pavilhão-bandeira da escola e o pavilhão hospitalar, costurando o tema da insanidade à identidade gonçalense. O Tigre “mostra as garras”, brinca com “doido” para declarar que quer o título e sustenta um manifesto de inclusão em “Nem todos os que aqui estão são loucos / Nem todos que são loucos, aqui estão”. É o “reino da insanidade” onde teimosia e vaidade viram combustível de arte, em sintonia com o enredo “No Reino da Folia, Cada Louco com Sua Mania”, que celebra a linha tênue entre genialidade e loucura.

As referências ampliam a ideia com figuras históricas e culturais. “Dona Maria” (Maria I, dita “a Louca”) cruza com “Napoleão”, aproximando poder e delírio. “Assombrando a ópera em Paris / Um compositor fantasma” evoca O Fantasma da Ópera e, em “o mal que era apenas aparente”, comenta como a deformidade e a exclusão social “foi tomando a sua mente”. “Feito o galante Dom Quixote”, a loucura idealista vira bravura. “Raul, maluco beleza, há dez mil anos atrás” junta dois clássicos de Raul Seixas para pregar excentricidade como mensagem de “amor e paz”. “Menino maluquinho... do cinema até é tema” cita Ziraldo e a ideia de que a infância tem um excesso criativo saudável. “Nijinski... incurável na loucura pela dança” lembra o gênio do balé que enfrentou transtornos mentais; e “Bispo do Rosário... fez do mundo um inventário para doar ao criador” reconhece a obra erguida no confinamento psiquiátrico. No fim, “Sapucaí é a tela”: a passarela vira galeria onde a Porto da Pedra exibe, com humor e orgulho, a potência criativa da “loucura” carnavalesca.