2020

Reflexão sobre identidade e resistência em “2020” de Sant

Em “2020”, Sant apresenta uma reflexão direta sobre o tempo, a pressão das ruas e a busca por identidade em meio à adversidade. O refrão “O tempo passa / Ó, toda essa obra / Não perco a linha / É que a rua cobra” destaca a necessidade de se manter firme diante das cobranças e perigos do cotidiano periférico, onde o tempo é visto como um recurso valioso e implacável. A frase “veneno de sobra / então, não morde a língua” evidencia o ambiente hostil e a importância de cautela nas palavras e atitudes, já que qualquer deslize pode trazer consequências sérias. Quando diz “a rua cobra, arruína obras, jamais as minhas”, Sant reforça sua resiliência e orgulho por construir sua trajetória apesar das dificuldades.

A música também faz uma crítica social clara, como em “Encheram minha zona norte / De mágoa, droga, arma / E problemas de confiança”, apontando para a negligência e violência estrutural nas periferias. Sant cita figuras como Garvey, Khalo, Simones e Simonais, mostrando que, mesmo em meio ao caos, há inspiração e resistência. O verso “Sou uma obra de Jordan Peele / Negro / Como a noite e suas nuances” conecta sua identidade negra à obra do cineasta, reconhecido por abordar racismo e terror social, sugerindo uma vivência marcada por complexidade e orgulho. Ao afirmar “Eu sou minha própria igreja”, Sant destaca a autonomia e a fé em si mesmo como formas de sobrevivência e afirmação. Assim, “2020” se torna um retrato honesto da luta diária, esperança e força de quem vive à margem, mas não se deixa definir por isso.