Samba-Enredo 2020 - O Conto do Vigário

O Conto do Vigário: Uma Crítica Social em Forma de Samba

O samba-enredo 'O Conto do Vigário', apresentado pela G.R.E.S. São Clemente no Carnaval de 2020, é uma obra rica em críticas sociais e históricas. A letra começa com uma celebração da chegada do povo, simbolizando a esperança e a resistência cultural. A referência ao sino da capela e à confusão em torno da imagem de Nossa Senhora remete a um antigo conto popular, onde um burro deveria decidir a quem pertencia a imagem, mas o resultado já estava manipulado. Essa história é uma metáfora para a corrupção e a manipulação que permeiam a sociedade brasileira desde os tempos coloniais.

A letra segue abordando a esperteza e a malandragem como características enraizadas na cultura brasileira. A menção a Dom João e Napoleão ilustra como a astúcia foi usada para transformar o Brasil em uma capital, enquanto a expressão 'trambique, patrimônio nacional' reforça a ideia de que a trapaça é uma prática comum e quase institucionalizada. A música também faz alusão a golpes clássicos, como o bilhete premiado e a venda de terrenos na Lua, mostrando que a malandragem se modernizou, mas continua presente.

No contexto contemporâneo, o samba critica a corrupção política e a desilusão causada pelas fake news. O 'vigário de gravata' representa os políticos corruptos que se disfarçam de benfeitores, enquanto a expressão 'La garantia soy yo' ironiza as promessas vazias de charlatões. A letra também menciona o uso de tecnologia para manipulação, como o VAR e os grampos telefônicos, e critica a superficialidade das redes sociais, onde a beleza é filtrada e a desilusão é constante. O refrão final, 'Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu', resume a facilidade com que as fake news se espalham, enganando a população e perpetuando um ciclo de desinformação e manipulação.