L'arca Di Noé

Reflexão ecológica e existencial em “L'arca Di Noé” de Sergio Endrigo

“L'arca Di Noé”, de Sergio Endrigo, utiliza imagens fortes para abordar a artificialidade e a destruição ambiental causadas pelo avanço humano. Trechos como “un volo di gabbiani telecomandati” (“um voo de gaivotas telecomandadas”) e “una spiaggia di conchiglie morte” (“uma praia de conchas mortas”) ilustram o impacto negativo do progresso sobre a natureza. O verso “la luna è piena di bandiere senza vento” (“a lua é cheia de bandeiras sem vento”) faz referência à corrida espacial, sugerindo que até as maiores conquistas tecnológicas podem ser vazias diante das crises existenciais e ecológicas.

O refrão propõe um recomeço inspirado na arca bíblica: “Sarà come l'arca di Noè / Il cane il gatto io e te” (“Será como a arca de Noé / O cachorro, o gato, eu e você”). Essa metáfora reforça a esperança, a união e a busca por renovação em meio ao caos, destacando a importância dos laços afetivos e da solidariedade diante da destruição. O tom melancólico da música aparece em frases como “che fatica essere uomini” (“que dificuldade é ser humano”), repetidas ao longo da letra, expressando o peso de viver em um mundo marcado pela perda e alienação. Lançada em 1970, a canção dialoga com o surgimento da consciência ecológica global e foi reconhecida por críticos como Vincenzo Buonassisi por trazer temas ambientais e existenciais a um festival tradicionalmente voltado para assuntos mais leves. Assim, “L'arca Di Noé” se destaca como um convite à reflexão sobre o papel do ser humano e a necessidade de reconstruir um novo começo coletivo.