Samba-Enredo 2026 - Bejiróó, Onipé Doum – Ibeji

Axé em “Samba-Enredo 2026 - Bejiróó, Onipé Doum – Ibeji”

O título costura a ideia de que são as crianças que guiam o sagrado: “Bejiróó” (gêmeos), “Onipé” (senhor dos pés) e “Doum” (irmão de Cosme e Damião). Essa chave explica imagens como “brincam sobre os pés do baobá” e “a umbanda ilumine o caminhar”, em que os Ibejis conduzem o trânsito entre Orun (plano espiritual) e Ayê (a Terra). O enredo da S.E.S Imperador do Ipiranga celebra os elos África–Brasil, terreiro–altar e infância–sabedoria, transformando a história dos gêmeos de Xangô e Iansã em lição de esperança: “conta o itã” (mito iorubá) que eles trazem a mensagem para “o mal não prosperar / e um novo amanhã brilhar”. O baobá, árvore sagrada, vira emblema de raiz e proteção; “pés” sugere caminho e fundamento ancestral, mostrando que a leveza infantil também sustenta a comunidade.

No miolo do samba, a ternura vira resistência. “A doçura num pedaço de pano e amor / Abayomi é segredo de África” remete às bonecas abayomi, memória de afeto em tempos de dor; “ser criança diante da dor” resume essa ética: encarar o sofrimento sem perder a dignidade. “Firma a palma no meio do terreiro” convoca a vibração coletiva, enquanto “o mandingueiro mandou chamar o erê” (espírito infantil) ativa os erês para espalhar travessuras protetoras e axé. A saudação “Salve Cosme e Damião, doum!” se confirma nas ofertas: “Mamãe mandou doces para lhe ofertar”, costume ligado aos santos gêmeos; “Papai mandou um balão do céu” soa como bênção que desce do Orun. No desfecho, “Vai ter festa no ilê do Ipiranga” (casa/terreiro) e “todo ibeji se vestiu de Imperador” (gêmeos sagrados) consagram a escola como casa da criançada, onde a batucada acolhe o riso, reafirma a fé e renova o caminho.