Uso (Fullmetal Alchemist Brotherhood)

“Uso (Fullmetal Alchemist Brotherhood)” e o adeus gentil

O título “Uso” (mentira) atravessa a canção com ambivalência: algo rejeitado, mas usado para amortecer a dor. Isso surge em “上手に騙してね 嘘は嫌いで好き” (Minta bem para mim; odeio, mas também gosto de mentiras) e culmina em “最後の嘘は優しい嘘でした” (A última mentira foi uma mentira gentil), quando a mentira final vira cuidado para encerrar um vínculo. A memória do crepúsculo — “あの日見た空 あかねいろの空” (O céu que vimos naquele dia, um céu cor de crepúsculo) — e a “約束契り” (promessa/juramento), levadas pelo vento do início do verão, marcam um pacto que se rompeu. O eu tenta adiar o fim — “気づかぬ振り再生を選ぶ” (Finjo não perceber e escolho repetir) —, espera um contato que não chega — “テーブルの上の震えない知らせ” (A notificação que não vibra sobre a mesa) —, até encarar “ふたり戻れない” (nós dois não podemos voltar). Os detalhes domésticos traduzem o vazio após a partida.

A trajetória emocional vai da negação à aceitação serena: noites em claro e manhãs adiadas cedem lugar a um adeus contido, com “いつかまたね” (um dia, a gente se vê), em que a gentileza protege os dois do colapso imediato. No fecho, persiste a reconciliação com a perda: “果たせなかった約束を抱いて ふたり歩き出す” (Carregando as promessas não cumpridas, nós dois começamos a andar). Como tema de encerramento de Fullmetal Alchemist: Brotherhood (eps. 1–14), a canção da Sid espelha a jornada dos protagonistas: vínculos fortes, separações necessárias e a necessidade de seguir. O “futari” pode ser lido como casal ou como dois companheiros lado a lado. A capa de 2023 por Romi Park (voz de Edward Elric) reforça essa ponte: “Uso (Fullmetal Alchemist Brotherhood)” cristaliza o tom melancólico do anime ao transformar a mentira em gesto de cuidado e a ruptura em movimento para seguir adiante.