A Cocaína

Contradições do vício em "A Cocaína" de Sinhô no contexto social

A música "A Cocaína", de Sinhô, oferece um retrato direto do fascínio e da dependência em relação à droga em uma época em que seu uso era socialmente aceito e até recomendado como remédio. A letra revela a vulnerabilidade do eu lírico diante da ausência da substância, como nos versos “Só o vício me traz / Cabisbaixa me faz / Reduz-me a pequenina”, mostrando o abatimento e a busca por alívio emocional. O contexto histórico é fundamental: a cocaína era vista como solução para dores físicas e emocionais, o que aparece na forma como a droga é tratada como “alívio para as dores / Neste meu coração” e como uma salvação momentânea para a tristeza e o vazio.

A canção também destaca a ambiguidade do vício, alternando entre a exaltação dos efeitos da cocaína e a consciência de sua natureza destrutiva. Versos como “Só tu és minha vida / Só tu ó cocaína” e “É o vício arrogante / De tomar cocaína” revelam tanto a entrega apaixonada quanto a percepção do domínio da droga. Metáforas como “gota orvalina” e “amor purpurina” reforçam a idealização dos efeitos, enquanto trechos como “Torna a alma perdida” e “Louca hás de voltar / Vendo-me estrangular / Para o vício afogar” apontam para o ciclo de dependência e autodestruição. Assim, a música reflete não só o contexto social da época, mas também uma experiência emocional intensa, marcada pelo desejo de fuga e pela sensação de perda.