Hello

Identidade e humor cultural em “Hello” de Sophia Chablau

Em “Hello”, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo exploram de forma leve e irônica as complexidades de viver entre diferentes línguas e culturas. A alternância entre inglês e português não é apenas um recurso estilístico, mas reflete a experiência pessoal da vocalista com sua identidade linguística. Trechos como “I just can't speak Portuguese” e “Portuguese it's a very pretty língua” mostram tanto a admiração pelo idioma quanto a dificuldade de se expressar plenamente nele. A frase “I think my tongue is like a criatura / She makes sounds that I can't entender” (Acho que minha língua é como uma criatura / Ela faz sons que eu não consigo entender) reforça a sensação de estranhamento e a ideia de que a língua pode parecer algo independente, difícil de controlar, especialmente para quem transita entre culturas.

O humor aparece nas confusões culturais, como em “I never eat tender in carnaval / I don't know why Elvis canta love me tender / If is a comida de Christmas” (Nunca como tender no carnaval / Não sei por que Elvis canta love me tender / Se é uma comida de Natal). Aqui, a letra brinca com traduções literais e o choque entre referências brasileiras e norte-americanas, ironizando a globalização e o imperialismo cultural. Isso se intensifica em “I hate imperialism, Trump, sausages / Ghosts and the industrial culture of United States / But sometimes eu gosto também” (Eu odeio imperialismo, Trump, salsichas / Fantasmas e a cultura industrial dos Estados Unidos / Mas às vezes eu gosto também), reconhecendo a influência dos EUA, criticando seus excessos, mas admitindo uma relação ambígua com a cultura pop global. “Hello” é, assim, um retrato divertido e honesto das contradições de quem vive entre línguas, sotaques e identidades.