Abominavel Homem Das Fezes

“Abominavel Homem Das Fezes”: sátira e anti-herói

Aqui, o grotesco vira armadura e marca registrada. O verso “coberto de bosta igual estou coberto de razão” transforma sujeira em autoridade e zomba do durão que se acha sempre certo. Isso combina com a persona de vilão encenada pela dupla e com o contexto de SPG VOLUME IV - CONTRATO DE SANGUE, feito após saírem da prisão com a condição de voltar a gravar para a TonyKillRecords. A escatologia vira munição de provocação e recado: mesmo “domesticados” por um contrato, eles não vão se comportar.

A faixa ergue um anti-herói pop e mitológico por meio de referências: “soldado enviado do inferno” acena a Spawn; “um vilão clássico tipo o Dr. Doom”, “uma lenda no Tibete (tipo o Yeti)” e “espião de vaso... Cody Banks” ampliam o tom satírico. A fantasia ganha corpo em “minha armadura é marrom e minha capa é amarela”. Linhas como “saneamento básico não impede de ver teu bumbum” e o refrão-juramento “se eu morrer, então me enterra com bosta no meu caixão/toletão no coração” elevam a hipérbole. Há duplo sentido entre fetiche e espionagem em “espião de vaso”, enquanto a onomatopeia “pffff” transforma nojo em gag de desenho. A repetição “SPG, SPG” e do refrão fixa a caricatura como mascote do grupo. Ao tratar fezes como épico, o narrador ridiculariza moralismos, parodia a grandiosidade das HQs e cutuca público e indústria com exageros calculados — uma piada de mau gosto consciente de si mesma.