Déclaration

Reflexão sobre desigualdade de gênero em "Déclaration"

Em "Déclaration", Stromae questiona abertamente a associação tradicional entre coragem e masculinidade ao afirmar que, se a coragem tivesse um rosto, seria o de uma mulher. Com isso, ele desafia estereótipos de gênero e destaca como a força feminina costuma ser ignorada. O verso “on naît pas misogyne, on le devient” (não nascemos misóginos, nos tornamos) reforça que o machismo é resultado de uma construção social, preparando o terreno para uma crítica direta aos papéis impostos às mulheres.

A letra aborda desigualdades do dia a dia, como a sobrecarga mental das mulheres, a expectativa de que sejam as principais cuidadoras e a pressão para aceitar métodos contraceptivos prejudiciais, exemplificada em “La contraception qui te détruit la santé” (A contracepção que destrói sua saúde) e “Endométriose, enchantée” (Endometriose, prazer em conhecê-la). Stromae também ironiza a diferença salarial com “J'suis mieux payé que toi sans vouloir me vanter” (Sou melhor pago que você, sem querer me gabar), mostrando como essas desigualdades são vistas como normais. O refrão, repetido como um mantra, sugere que a mudança é inevitável, mas lenta, pois “ça prendra quelques années vu que ça nous arrange” (vai levar alguns anos, já que isso nos convém), indicando que a demora interessa a quem se beneficia do sistema atual.

Ao afirmar que ser feminista virou “à la mode” (na moda), Stromae critica o uso superficial do termo, enquanto atitudes misóginas ainda são mais aceitas do que comportamentos femininos fora do padrão. A mistura de batida dançante com letra crítica faz de "Déclaration" um convite à reflexão e à ação, denunciando injustiças de gênero e incentivando a busca por igualdade.