Tyson Free

Ironia e polêmica em “Tyson Free” das As Sublimes

“Tyson Free”, das As Sublimes, aborda de forma provocadora o caso judicial envolvendo Mike Tyson, condenado por agressão sexual. A música inverte a lógica tradicional de vítima e agressor, retratando Tyson como alguém enganado e injustiçado, enquanto a mulher envolvida é descrita com termos hipersexualizados e estereotipados, como “mulataça venenosa” e “ancestral mulata de estirpe messalina”. Essas expressões reforçam estereótipos raciais e sexuais, além de fazerem referência à figura bíblica de Eva, sugerindo que a mulher seria responsável pela “expulsão do paraíso do dinheiro, da fama, da grana, do luxo, do sexo”.

O refrão repetitivo – “Free! Free! Mike Tyson Free!” – funciona como um grito de torcida, mas também carrega uma ironia ácida ao transformar um caso sério em espetáculo, misturando termos do boxe como “Uppercut!”, “Knock Down!”, “Jab! Jab!”, “Knock Out!” com a campanha pela libertação do boxeador. A letra, escrita por Fausto Fawcett e Fred Nascimento, defende explicitamente a inocência de Tyson e sugere que ele foi vítima de uma “armadilha”. A escolha de As Sublimes, um grupo de mulheres negras, para interpretar a música adiciona uma camada de desconforto, já que elas mesmas relataram ter gravado a faixa por obrigação contratual. No fim, “Tyson Free” faz uma crítica irônica à cultura de celebridades e à espetacularização do crime, mas também levanta questões éticas ao minimizar a gravidade do caso e transferir a responsabilidade para a vítima.