The Only Thing

Dor, fé e superação em "The Only Thing" de Sufjan Stevens

"The Only Thing", de Sufjan Stevens, aborda de forma direta e sensível o conflito entre o desejo de desistir diante da dor e a busca por razões para continuar vivendo. A música se destaca por transformar referências mitológicas e bíblicas — como Perseu, Medusa e a mensagem de Daniel — em símbolos da luta interna do artista, conectando seu sofrimento pessoal à busca universal por sentido. Essas imagens não são apenas decorativas, mas funcionam como metáforas para o enfrentamento do trauma e da perda, especialmente após a morte de sua mãe, Carrie, tema central do álbum e da canção.

A letra expõe pensamentos suicidas de maneira clara, como em “The only thing that keeps me from driving this car / Half-light, jack knife into the canyon at night” (A única coisa que me impede de dirigir este carro / Penumbra, faca dobrável no desfiladeiro à noite) e “The only thing that keeps me from cutting my arm” (A única coisa que me impede de cortar meu braço), mostrando a intensidade do desespero vivido. Apesar disso, Stevens contrapõe esse peso com a ideia de que pequenas maravilhas do cotidiano — como as “sea lion caves in the dark” (cavernas de leões-marinhos no escuro) — podem oferecer momentos de esperança. O refrão, ao repetir “Should I tear my eyes out now? Everything I see returns to you somehow” (Devo arrancar meus olhos agora? Tudo o que vejo retorna a você de alguma forma), mostra como a memória da mãe permeia sua vida, tornando impossível escapar da dor, mas também sugerindo que o amor e a lembrança são o que o mantém seguindo em frente. A música equilibra vulnerabilidade extrema com lampejos de fé e beleza, ressaltando a complexidade do luto e a importância de encontrar significado nos detalhes mais simples.