Caminhoneiro

O olhar feminino e a saudade em "Caminhoneiro" de Sula Miranda

"Caminhoneiro", de Sula Miranda, se destaca por abordar a rotina dos caminhoneiros a partir da perspectiva da esposa, algo incomum na música sertaneja dos anos 1980. A letra traz um olhar sensível sobre a solidão e a saudade vividas por quem espera o marido voltar das estradas, sempre ressaltando o amor como força motriz dessa relação. O verso “Porque pensa nela no caminho imagina seu carinho / E todo o bem que ela lhe faz” mostra como o caminhoneiro se mantém motivado pelo afeto da parceira, evidenciando a importância do vínculo afetivo mesmo diante da distância.

A música utiliza imagens simples para aproximar o universo do caminhoneiro do cotidiano do casal, como o limpador de para-brisa que “bate igual seu coração” e o para-choque com o nome da amada, reforçando o desejo de proximidade. O refrão traz a tensão entre a pressa de rever o amor e a responsabilidade no trabalho: “Coração tá disparado mas ele anda com cuidado / Não se arrisca na banguela”. Aqui, “andar na banguela” (dirigir em ponto morto) simboliza a cautela diante da ansiedade. Já o trecho “É no acostamento dos seus braços que desliga seu cansaço / E se abastece no seu mel” mostra que o verdadeiro descanso do caminhoneiro está no reencontro com a esposa, usando “mel” como metáfora para o carinho e o prazer do relacionamento.

Assim, "Caminhoneiro" valoriza tanto o trabalho na estrada quanto o papel da mulher que espera, celebrando o amor resiliente diante das dificuldades. O sucesso da música e o título de "Rainha dos Caminhoneiros" para Sula Miranda refletem como essa abordagem tocou um público que se sentia pouco representado, transformando a canção em um símbolo de carinho, saudade e reconhecimento.