Cosmic Dancer

Existência em movimento em “Cosmic Dancer”, de T. Rex

Em “Cosmic Dancer”, Marc Bolan transforma a dança em metáfora do ciclo da vida — do nascimento à morte, e de volta. A pergunta “Is it strange to dance so soon” (É estranho dançar tão cedo) confronta normas sociais e defende a expressão livre em qualquer idade. O par rítmico de “I danced myself right out the womb / ... into the tomb” (Eu dancei até sair do útero / ... até o túmulo) condensa a existência como movimento contínuo, mais impulso do que narrativa linear. O lampejo de retorno em “But when again once more” (Mas então, mais uma vez) sugere renascimento. Já “Is it wrong to understand / the fear that dwells inside a man” (É errado entender / o medo que habita um homem) reconhece a presença do medo, que a dança não nega, mas atravessa. E “What’s it like to be a loon / I liken it to a balloon” (Como é ser um louco / Eu comparo a um balão) joga com “loon” (gíria para “louco”) e “balloon”, imagem de leveza e fragilidade pronta a escapar da gravidade — afinada com o título cósmico.

Lançada em Electric Warrior (1971), a faixa é uma balada introspectiva onde dançar simboliza existir, do berço ao túmulo, com o refrão-questionamento funcionando como manifesto de autenticidade. As releituras ampliam essas camadas: Valerie June, em 2019, destaca a ideia de seguir brilhando e dançando ao longo da vida; Nick Cave (2020), ao piano, aprofunda a confissão do medo. A performance de Morrissey com David Bowie, gravada em 1991 e lançada em 2020, confirma a força duradoura da imagem do “dançarino cósmico” — uma coreografia que espelha nossa passagem pelo tempo.