I've Got A Dream

“I've Got A Dream” e os sonhos atrás das aparências

Em “I've Got A Dream”, Alan Menken e Glenn Slater transformam a taverna O Patinho Fofo no palco onde rufiões assustadores revelam desejos inesperados. O Hook Hand, que “tem cara de mau” e tem um gancho no lugar da mão, admite querer ser pianista de concerto e “tocar Mozart”, enquanto a letra brinca com o trocadilho “killer show-tune medley” (medley de show tunes “matador”, tanto no sentido de excelente quanto de perigoso). A lista de sonhos dos outros durões — virar florista, fazer design de interiores, mímica, cupcakes, tricô, costura e colecionar unicórnios de cerâmica — sublinha a ideia de que aparência e passado não definem ninguém. O próprio texto ri de si: “grotesquely optimistic” (grotescamente otimista) e “tickling the ivories” (dedilhar o piano) reforçam o tom de teatro musical que troca ameaça por confissão bem-humorada.

A cena também alinha os protagonistas. Flynn expõe sua fantasia materialista — “uma ilha só minha cercada por pilhas de dinheiro” —, enquanto Rapunzel diz que quer “ver as lanternas flutuantes brilharem”. Quando todos entoam “we’ve got a dream” (nós temos um sonho), nasce um pacto de acolhimento: as diferenças “não são tão extremas” e aquele grupo funciona como um time. Em Tangled (Enrolados), o número marca uma virada emocional: Rapunzel se sente mais segura fora da torre, e o público entende que gentileza e desejo cabem em qualquer casca. Não por acaso, “I've Got A Dream” rendeu indicação a Melhor Canção Original pela Phoenix Film Critics Society em 2010 — um lembrete leve e divertido para não julgar o livro pela capa.