Cachorraz Kamikaze

Duplo padrão e resistência em "Cachorraz Kmikazes"

Em "Cachorraz Kmikazes", Tasha & Tracie abordam de forma direta a hipocrisia social e o racismo estrutural, especialmente ao comparar a romantização de ícones brancos, como Bob Marley e Cazuza, com a criminalização de figuras negras da periferia. O verso “O Cazuza negro é nóia e traficante / Lindo em Woodstock não pode no baile funk” escancara o duplo padrão: atitudes vistas como rebeldia ou arte em contextos brancos são tratadas como crime quando vêm da periferia negra. As artistas, vindas do Jardim Peri, usam suas experiências para denunciar como a sociedade cria estereótipos para esconder seus próprios problemas, como mostram em “Nos forjam pra camuflar seus flagrante”.

A música também é um manifesto de empoderamento feminino e resistência. Ao dizer “No teste vocacional daria uma boa drug dealer / Pensou se eu monto a firma e recruto várias mina”, elas subvertem o estigma de criminalidade, mostrando que a força e a inteligência das mulheres da quebrada poderiam dominar qualquer espaço, inclusive os que lhes são negados. O refrão “No gueto, o proceder e o fundamento nunca falha / Respeita minha buceta ou faço uma na sua cara” reforça a mensagem de autonomia e respeito, deixando claro que não aceitam opressão. O tom mistura enfrentamento e ironia, como quando sugerem que poderiam ser "mulher bomba" ou rappers, mostrando que, apesar das pressões, escolhem a arte como forma de resistência.

A letra ainda traz referências bíblicas e sociais para retratar a dureza da vida na periferia: “O vale da sombra da morte é tipo o caminho do trabalho pra casa”. Não há espaço para vitimismo, apenas para sobrevivência e luta, como em “Vitimismo não cabe, é legítima defesa”. "Cachorraz Kmikazes" é um grito de resistência, orgulho e denúncia, deixando claro que a periferia não vai mais aceitar ser silenciada ou criminalizada.