cRua

A dualidade da rua em "cRua" de Tasha & Tracie

A música "cRua" de Tasha & Tracie retrata a rua como uma figura feminina complexa, capaz de acolher e destruir ao mesmo tempo. Logo no início, a frase em inglês “Her ways look good, but she’s a highway to the grave” (Os modos dela parecem bons, mas ela é uma estrada para o túmulo) já deixa claro que, apesar de sedutora, a rua é perigosa e pode levar à morte. Essa ambiguidade aparece em toda a letra, que mistura relatos de sobrevivência, violência, relações de interesse e a busca por afeto em meio ao caos urbano. O verso “Se pá, tenho daddy issues, só me fazem cada vez mais hostil” revela traumas pessoais que se somam à hostilidade do ambiente, enquanto “Me conheceu apostando, me esqueceu quando ganhou” fala sobre relações marcadas pelo oportunismo e abandono, temas presentes na vivência periférica das artistas.

O contexto das irmãs como representantes da cultura negra e periférica de São Paulo aparece em versos como “Movimentos, protestos por mortes e cortes / Nomes sujos, com limpas caminhadas”, que abordam a luta por justiça social e resistência ao preconceito. A rua é mostrada como um espaço de contradições: “Tem comércio de droga, tem comércio de amor”, revelando a convivência entre criminalidade e solidariedade. A metáfora “flor nascer / Enxergar o melhor no meu pior lugar” sugere esperança e resiliência mesmo nos cenários mais difíceis. Já o trecho “Viu no ar: Verdade crua igual sushi” reforça que a realidade da rua é direta e, muitas vezes, dura. No final, a narrativa de quem “perdeu o seu menino” e agora “carrega vozes e não caminha mais sozinho” mostra o peso das perdas, mas também a força coletiva que nasce das experiências compartilhadas na rua.