Dança

Crítica social e afirmação em "Dança" de Tasha & Tracie

"Dança", de Tasha & Tracie, aborda de forma direta a distância entre quem vive na periferia e aqueles em posições de privilégio. Logo no início, o verso “Qual termo define esse herói que não salva?” questiona a figura do salvador distante, que observa de cima, do “altar de pedras que brilha”, mas não compreende ou ajuda quem está “nas ruínas”. Essa crítica se conecta à trajetória das artistas, que cresceram no Jardim Peri e sempre trouxeram para suas músicas a vivência periférica, a luta por respeito e a denúncia da hipocrisia social. As referências ao “pedestal” e ao “altar” reforçam a crítica a quem mantém uma postura de superioridade, mesmo quando se diz aliado da comunidade.

A letra também destaca a desconfiança diante de promessas vazias e discursos de autopromoção, como em “vejo protestos seguidos de link de autopromoção / Em vocês não confio, sorrio e aceno”. Tasha & Tracie expõem a superficialidade de muitos ativismos e alianças, mostrando que, para quem vem da periferia, é preciso mais do que palavras: é necessário respeito e ação concreta. O trecho “Como vencer e favelada / Como preta e respeitada / Como contrato e palavra / Mas não com morte e piada” resume a busca por reconhecimento sem abrir mão da identidade, rejeitando estereótipos e a violência que atinge mulheres negras periféricas.

Por fim, a música utiliza metáforas para afirmar a força das artistas, como em “Seu sorriso esconde o medo, eu sou a bruxa / Seu pesadelo, Serena e Vênus / Uma em um milhão, mas só que duas”. A menção a Serena e Vênus Williams destaca o orgulho de serem mulheres negras que desafiam expectativas e conquistam respeito em espaços hostis. O tom direto e urbano da letra reflete a resistência e a criatividade de quem transforma adversidade em afirmação de identidade.