Like I Ain't

Fome, currículo e desafio em “Like I Ain't”, de Tech N9ne

Em “Like I Ain’t” (Como se eu não tivesse), Tech N9ne encena a fome de um estreante para manter a lâmina afiada. Na faixa de N9NA (2019), ele usa a repetição como martelo: “Like I ain’t rich / Like I ain’t build a empire in the ’Zou” (Como se eu não fosse rico / Como se eu não tivesse construído um império no ’Zou), contrapondo conquistas reais à postura de operário do rap. O name-dropping vira argumento: “rappin’ like I ain’t never did a record with 2Pac” (rimando como se eu nunca tivesse feito uma faixa com o 2Pac), Eminem como “the white guy Dre got” (o branco que o Dre descobriu), Lil Wayne “on the Carter” (no Carter), além de Twista, Kendrick (“K-Dot”), T.I., 2 Chainz e B.o.B, citado em “with the homie Bobby and 2 Chainz” (com o mano Bobby e 2 Chainz). Há ainda o aceno ao Slipknot e seus fãs, chamados de “Maggot” (verme), conectado à parceria real com Corey Taylor em Wither (2015). Não é vaidade: é currículo usado como combustível, sustentado por beat agressivo e chopper flow preciso.

Os temas são desafio, autenticidade e resiliência. Ele revisita a origem em “Skippin’ my job / try’na get from the projects” (faltando ao trabalho / tentando sair dos projetos) e usa metáforas como “Whipping in kitchens with Pyrex” (mexendo nas cozinhas com Pyrex) no duplo sentido de hustle e “cozinhar” faixas. O arco vai de “slappin’ the industry” (enfrentando a indústria) à construção independente da Strange Music e de um “império” no Missouri (“’Zou”). O clipe, ambientado numa ala psiquiátrica, dramatiza o ato de listar feitos para céticos, reforçando a provocação constante. No fim, Tech N9ne crava o manifesto: chegar ao topo não traz acomodação — só o obriga a rimar como se ainda tivesse tudo a provar.