Julia

Memória e afeto entrelaçados em “Julia” dos Beatles

“Julia”, dos Beatles, é uma canção marcada pela fusão das memórias de John Lennon sobre sua mãe e a influência de Yoko Ono em sua vida. A expressão “ocean child” (“criança do oceano”) faz referência direta a Yoko, já que “Yoko” significa isso em japonês. Assim, Lennon une as duas mulheres mais importantes de sua trajetória em uma única homenagem. Elementos como “seashell eyes” (“olhos de concha”) e “hair of floating sky” (“cabelos de céu flutuante”) evocam tanto a ternura materna quanto a admiração romântica, criando uma atmosfera de sonho e contemplação ao longo da música.

A letra também traz influência do poema “Sand and Foam”, de Kahlil Gibran, especialmente no verso “Half of what I say is meaningless” (“Metade do que eu digo não faz sentido”). Isso sugere que, mesmo quando as palavras parecem vazias, existe o desejo de se comunicar e se conectar com quem se ama. Composta durante o período em que Lennon buscava autoconhecimento na Índia, a música reflete essa introspecção. O arranjo simples e a repetição do nome “Julia” funcionam como um mantra, reforçando o desejo de consolo e proximidade. Dessa forma, “Julia” se destaca como uma confissão íntima, em que Lennon transforma saudade, dor e amor em uma poesia musical delicada.