I Want The One I Can't Have

Desejo e marginalidade em "I Want The One I Can't Have"

"I Want The One I Can't Have", do The Smiths, aborda de forma direta e irônica a frustração de desejar aquilo que está fora de alcance. A música vai além do tema do amor não correspondido ao explorar a atração por figuras marginais e a tensão entre desejo e repressão social. O verso “On the day that your mentality decides to try to catch up with your biology” (No dia em que sua mentalidade decidir tentar acompanhar sua biologia) destaca o conflito entre o que se sente e o que se permite sentir, especialmente relevante nos anos 1980, quando discussões sobre sexualidade eram tabu. Essa frase sugere um convite para que a pessoa desejada aceite seus próprios impulsos, mostrando como o desejo reprimido se torna um sofrimento visível, algo que está “all over my face” (escancarado, impossível de esconder).

A música também faz referência ao “tough kid who sometimes swallows nails” (garoto durão que às vezes engole pregos) e que “killed a policeman when he was thirteen” (matou um policial quando tinha treze anos), evidenciando a admiração por quem vive à margem da sociedade. Essa escolha de personagem pode ter sido inspirada por histórias reais de jovens apoiados por instituições como a Prison Advice and Care Trust, reforçando o fascínio por quem desafia normas sociais. Já o trecho “a double bed and a stalwart lover for sure, these are the riches of the poor” (uma cama de casal e um amante fiel, com certeza, essas são as riquezas dos pobres) valoriza a intimidade e o afeto como verdadeiras riquezas, em contraste com a falta de posses materiais. O tom melancólico e irônico da música evidencia tanto a dor quanto a resignação diante da impossibilidade de realizar certos desejos, refletindo sobre identidade, marginalidade e as complexidades do querer.