Paraná Gangsta

Condenação do sistema em “Paraná Gangsta”, do interior

“Paraná Gangsta”, de Thiagão e Os Kamikazes do Gueto, inverte a acusação de apologia: ao ouvir “diz que eu faço apologia”/“isso é apologia”, o narrador mostra que a verdadeira promoção da violência está no cotidiano de “crânio aberto e panela vazia”. A crítica se ancora no interior do Paraná — lotérica, motoca, Gol “bola”, identidade “pé vermelho” — para deixar claro que o problema é estrutural, não musical. A letra expõe violência estatal e encarceramento: polícia que mata inocente, cadeia superlotada e semiaberto que na prática vira fechado, como em “é nóis que tá tirando mais cadeia do que precisa”. O alvo se desloca da quebrada para o Estado e as elites: “num é minha mãe que tem navio, meu tio que tem aeroporto” indica quem realmente lucra e controla as rotas.

As imagens de rua não romantizam o crime; explicam por que muitos são empurrados ao limite. Gírias como “é nóis por nóis” (apoio entre iguais), “bicho solto” (sem proteção), “dar voz de assalto” (anunciar o roubo) e “atrás dos ouro” (buscar dinheiro) situam a sobrevivência num cenário de “salário mínimo de 400 e pouco” e escassez de oportunidades. O verso “máfia italiana já metia bronca e nem curtia o nosso som” rebate a ideia de que o rap incentiva o crime: ele o antecede; quem instiga ódio é o sistema. A recusa ao bom-mocismo da mídia (“meu som não toca na Massa FM”) reafirma o pertencimento a boteco, churrasco de vila e som nos carros. Entre revolta e coragem, “botano a cara” é assumir o risco de falar e defender a vila. “Paraná Gangsta” denuncia quem lucra, quem apanha e quem tenta sobreviver.