96 Degrees In The Shade

História, opressão e coragem em “96 Degrees In The Shade”

Em “96 Degrees In The Shade”, o calor é medida da opressão: “96 degrees” (96 graus) tão sufocantes que nem a sombra alivia. Quando surge “i and i” (eu e eu), entra a visão rastafári de unidade entre indivíduo, povo e o divino, convertendo um julgamento colonial em testemunho coletivo. Inspirada na Rebelião de Morant Bay (1865), liderada por Paul Bogle, a letra encena o insurgente levado por “ten thousand soldiers on parade” (dez mil soldados em desfile) diante da autoridade imperial — “the queen employ” (a serviço da rainha) — e de um “big fat boy sent from overseas” (grandalhão gordo enviado do exterior), alusão a um emissário da Coroa. É intimidação total: espetáculo militar de poder, enquanto o réu se apresenta — “Excellency before you I come” (Excelência, estou aqui diante de você) — sem se curvar, reafirmando “fighting to be free” (lutando para ser livre).

Os símbolos são diretos. “96 degrees in the shade” (96 graus na sombra) e “Real hot in the shade” (muito quente na sombra) dizem que, sob o colonialismo, não há abrigo. O “parade” (desfile) expõe a força britânica contra camponeses, conectando-se a Morant Bay. “Show me a noose on the cotton tree” (Mostre-me um laço na árvore-do-algodão) lembra execuções públicas e revela o sadismo do sistema: “Entertainment for you / Martyrdom for me” (Diversão para você / martírio para mim). “Some may suffer and some may burn” (Alguns podem sofrer e alguns podem queimar) traz o duplo sentido do sol e do fogo real da repressão. Ainda assim, há dignidade e esperança: “As sure as the sun shines” (Tão certo quanto o sol brilha) afirma que a verdade resiste, e “Today I stand here a victim the truth is I’ll never die” (Hoje estou aqui como vítima; a verdade é que nunca morrerei) projeta o martírio como memória viva. Assim, o clássico do Third World virou hino de resistência e memória na Jamaica.