Freestyle 03

Foco, trabalho e legado em “Freestyle 03”, de Thxuzz

Em “Freestyle 03”, “M10” funciona como alter ego e projeto de liderança: junta o M de Matheus (creditado como Matheus Lima) à camisa 10 e à faixa de capitão — “M10 em campo é com a 10 & Faixa” — e delimita ambição e comando. Ao citar “Barcelona 2008, M10 Samuel Eto’o”, não é só name drop: Eto’o encarna fome, constância e decisão, alinhado ao credo “Não é a chuteira, é o jogador”. A narrativa é de ascensão via treino e disciplina: “treinei várias temporadas / respeitar o processo / dessa engrenagem nós é a graxa”. O léxico do jogo e da máquina sustenta mérito técnico e profissionalismo, em sintonia com a ficha: produzida por Gonjay, masterizada por 2f U-Flow e lançada em 8 de novembro de 2024 — cuidado de estúdio que conversa com o “valor” que ele diz ter descoberto e passado a cobrar (“apliquei minhas taxa”). Ambição e foco guiam o tom — “Nada mais me para” — e a confiança cresce com o reconhecimento local: “Destaque na minha cidade / meu som é hino eles cantam em coro”.

Sobrevivência e vigilância atravessam a faixa: “cercado de ratos e cobras / puxar minha perna”. O campo vira guerra — “bandoleira / prêmio da guerra” — e o destino é encarado com frieza: a morte é certa, a arte busca ficar. A letra assume marcas internas (“Estresse pós-traumático”) e a dureza da rua pesa no afeto: há desejo, mas “amor é só pela arte”. “Baby gostosa ela dá no couro” carrega duplo sentido conhecido — performance sexual e também aguentar o tranco — aqui pendendo ao sexual, sinal de desapego reforçado por “Aquela vadia jurava amor”. A lealdade é reservada à família e aos seus: “Vou libertar meus irmãos da cela”, “pra coroa só vou dar ouro”, enquanto o estilo é sóbrio — “eu mesmo prefiro as prata”. Dor, desconfiança e esperança se equilibram: “perder faz parte”, pedem-se flores em vida, e a meta segue no horizonte. O resultado, como apontam leituras sobre Thxuzz, é um retrato direto de quem converte treino, batalha e cicatriz em posição na cena do hip-hop brasileiro.