Flor do Baile

“Flor do Baile”: boemia, traição e perda do lar sertanejo

Em “Flor do Baile”, o cantor anima a festa enquanto encara a cena mais dolorosa: ver a ex-amada nos braços de outro, ao som da própria música. A palavra “flor” organiza o conflito entre casa e noite. A letra começa com “Eu estava no baile cantando pra esquecer a traição de um amor” e logo anuncia a entrada de “uma flor”, a mulher que “roubou a alegria do meu coração”. Quando ele a chama de “flor do baile” e, depois, de “flor da noite”, fica claro o choque entre família e boemia: ela “fugiu do jardim do meu lar” e, no circuito de cabarés, surge “tristonha a murchar”. “Flor da noite” pode significar apenas uma frequentadora da vida noturna ou sugerir que passou a viver dos cabarés; em ambas as leituras, há o mesmo juízo amargo e a constatação da perda do lar.

Escrita por José Fortuna e Pitangueira e eternizada por Tião Carreiro e Pardinho — pioneiros do pagode de viola que levaram o baile sertanejo ao grande público — a canção acentua o contraste entre festa e ferida. Enquanto ela dança com outro “embalada por minha canção”, o narrador trava: “um soluço embargou minha voz”. O sentimento é de tristeza, mágoa e resignação, confirmado no desfecho: “para mim ela é uma sombra, mas para os boêmios do baile é uma flor”. O carinho público do salão convive com a memória da traição e com a ideia de que a boemia a faz murchar. A antiga paixão vira lembrança dolorida: admirada de longe como enfeite da noite, mas lembrada por ele como a ausência que esvaziou o lar.