Schweiss

Vergonha, corpo e destino social na letra de “Schweiss”

Em “Schweiss”, Till Lindemann transforma um incômodo corporal em maldição existencial e marca social. A faixa de Zunge (2023) retoma imagens do poema “Schweiß”, do livro In stillen Nächten, onde o suor vira metáfora de excesso, exposição e vergonha. A letra exagera o físico para dar materialidade ao drama: “Teiche hinter meinen Poren / Tiere, die darin ertrinken” (Lagoas atrás dos meus poros / Animais que se afogam nelas) transforma o suor em dilúvio grotesco; “Sommer steht im Guten, wirft mein Körper seine Fluten” (Quando chega o verão, meu corpo despeja suas torrentes) faz do calor uma catástrofe privada; “schwitze sogar, wenn ich friere” (suo até quando sinto frio) indica algo crônico. Há ironia sombria no “minha pele chora” e em “Regenbogen zum Beweis” (arco‑íris como prova): a luz nos pingos expõe o corpo ao olhar alheio.

A vergonha é dita sem rodeios: “Ich muss mich wirklich dafür schämen” (eu realmente tenho que me envergonhar disso). A persona tenta ocultar o problema e moldar a imagem: “Ich trage Schwarz, doch nicht aus Trauer” (eu visto preto, mas não por luto), mas segue carimbada como “Außenseiter” (excluído). A rejeição íntima aparece em “Frauen bleiben nie auf Dauer” (as mulheres nunca ficam por muito tempo). O humor negro leva o drama ao absurdo: “wenn ich tot bin, schwitz’ ich weiter” (quando eu estiver morto, vou continuar suando). O refrão repetido “Schweiß, mein Schweiß” (suor, meu suor) funciona como estigma e confissão obsessiva, ecoando o tema já cultivado no livro: suar demais é fisiologia, mas aqui também é destino social e cicatriz psicológica.