Mãe de Samba

Roda, desejo e Bahia em “Mãe de Samba”, da Timbalada

Em “Mãe de Samba”, a Timbalada transforma o Carnaval em uma figura feminina que acolhe e guia a roda, abençoando corpo, ritmo e rua. A letra cruza tradição de terreiro e gíria de avenida para afirmar uma Bahia que gira, mistura e deseja. “Rode a roda / Roda gira conta em mim” convoca a energia circular da festa, como quem deixa o compasso atravessar o corpo. “Cada som um sim” funciona como um credo de afirmação da vida e da mistura. As imagens acionam referências culturais: “jogar caxangá” vem das cantigas de roda e do universo da capoeira; “Patropi, vatapá” junta a gíria brincalhona para Brasil ao prato baiano de terreiro; “Samba na biriba” pode aludir à madeira do berimbau (biriba), aproximando samba, capoeira e ancestralidade. O refrão “Na Bahia vou girar” martela a ideia de movimento contínuo, a roda que não para.

Da metade em diante, a canção vira cortejo de desejo. “Carnaval, festa a libido / Eu te quero carnaval” personifica a folia como amante, num duplo sentido entre amar alguém e desejar a rua liberada. “Eu juro por carnaval” brinca com juramento sagrado, enquanto “Me beijar… Uma noite de amor / Ao som dos timbaus” liga o prazer ao pulso percussivo dos timbaus, marca do grupo. No registro de 1997 (álbum homônimo), a banda reforça o samba-reggae com axé, influências africanas e guitarras elétricas, acrescentando outra camada de brilho. Isso conversa com “Cada som um sim”: timbaus, roda, capoeira, comida de santo e riff elétrico viram um só corpo que desfila. “Esse ano eu vou sair na social” aponta o jogo de status da avenida, mas o convite permanece aberto — “Passe aqui, bacana” — e quente: “Ai, que calor ô, ô, ô”.