Les Eaux de Mars

Ciclos da vida e renovação em "Les Eaux de Mars"

Em "Les Eaux de Mars", Tom Jobim utiliza uma sequência repetitiva de imagens do cotidiano para ilustrar como a vida é formada por pequenos acontecimentos, muitas vezes simples, mas essenciais para a experiência humana. A estrutura "c'est" aparece em versos como “c’est un pas, une pierre, un chemin qui chemine” (é um passo, uma pedra, um caminho que caminha), criando uma sensação de movimento constante e passagem do tempo. Essa escolha reforça a ideia de ciclos e transições, especialmente a mudança de estações, que no Brasil é marcada pelas chuvas de março, sinalizando o fim do verão e o início do outono.

A versão em francês, adaptada por Georges Moustaki a pedido de Jobim, preserva o tom poético da original e destaca tanto a renovação quanto a melancolia. Elementos como “la neige qui fond” (a neve que derrete) e “l’hiver qui s’efface” (o inverno que desaparece) simbolizam o encerramento de um ciclo e o começo de outro. Já “la promesse de vie” (a promessa de vida) aponta para a esperança e o recomeço trazidos pelas águas de março. O trecho final, que mistura versos em português e francês, reforça a ideia de que a vida é feita de fragmentos — alegrias, dificuldades, finais e recomeços — todos conectados como as águas que anunciam uma nova estação. A canção transmite serenidade e convida o ouvinte a encontrar significado nos detalhes do dia a dia.