Canta, Canta Mais

O canto que cura em “Canta, Canta Mais”, de Jobim

“Canta, Canta Mais” transforma um provérbio em prática de autocuidado. Com poucas palavras e muita repetição, a canção apresenta o canto como escudo contra a dor e como lente para notar a beleza. A oposição entre leveza e pesar surge de forma direta: “Sente a beleza” / “Tanta tristeza”. O texto não nega o sofrimento; propõe uma ação simples e contínua — “Canta pra não chorar” / “Segue cantando em paz” — que acalma e faz companhia. A narrativa é mínima e clara: há o chamado (“Canta, canta” / “vai, vai”), a ação (seguir cantando) e o efeito emocional (paz, afastamento do choro). A repetição dos imperativos funciona como um refrão terapêutico, quase um exercício de respiração musical, que mantém o foco no alívio e na serenidade.

Composta em 1959 por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, a música ecoa explicitamente a crença popular “Quem canta seus males espanta”, incorporada na letra como afirmação central. O caráter simples, coral e reconfortante explica sua longa vida em diferentes vozes: Sylvia Telles e Lenita Bruno, no mesmo 1959; o próprio Tom Jobim em Terra Brasilis (1980); e a versão de 1987 com Elizabeth Jobim e Paula Morelenbaum. “Cantar” pode ser lido literalmente (a música como remédio) e também como metáfora de manter o movimento e a cabeça erguida, como sugerem os impulsos de “Canta, vai, vai”. Ao insistir no gesto — “Canta, canta” / “canta mais” — a canção afirma uma escolha pela paz: insistir na beleza para esvaziar a tristeza.