exibições de letras 18

Entrefesto (Prefácio)

Tom Plutão (Ormando zhiOmn)

Letra

    As linhas a seguir
    Não sabem pra que servem
    E nem sabem se servem

    Quem escreveu elas foram dedos
    Dedos juntados na palma da mão
    E também instrumentos
    Caneta, papel, teclado e tela

    Houveram também
    Olhos, nariz, orelhas, pele, língua
    E o órgão do pensamento

    Entre a palavra

    O começo e o fim são passageiros
    Só o que permanece são os meios

    Entre as palavras, os espaços
    Entre os sons, os silêncios

    Mas, nem todo silêncio é mudo
    Pois nas leituras que são ouvidas
    Pela mente
    Vemos, sentimos, viajamos
    Através de símbolos
    Sentidos e sonhos

    Andando por linhas tortas
    Escritas por mortais
    Entre nascimentos e mortes
    Por ruas, caminhos, campos
    Esquinas, encruzilhadas, vazios

    Quando não sabemos se
    Estamos criando ou sendo criados
    Quando o raciocínio
    Não precisa ser pensado, é intuído
    Aberto sem mistério
    Naturalmente etéreo

    Virtual, o espaço

    Nós movemos pela rede

    Navegamos por
    Beats e bytes
    Por textos e vídeos
    Canais e imagens

    A abundância dos conteúdos
    E a escassez das atenções
    Nos acompanham enquanto
    Damos likes e corações

    O amor líquido
    Liquidou os amores?

    A solidão deu match
    Com as rasas ligações?

    Pra que servem as palavras
    Entre memes e emojis?

    Pegue um bite, uma mordida
    Da internet, essa corrida

    A timeline nunca desliga
    Em nossas telas, em nossas vidas

    Arte, um meio

    Entre os espaços, os vãos
    Um local para conexão

    O que separa
    Mas também onde se junta

    Membranas, a pele
    Aquilo que fica entre
    O interior e o exterior

    Uma célula, um ser
    Precisa do fora e do dentro
    Precisa de trocas
    Ingerir e expelir

    Há uma coisa que sai
    E que para outro ser
    É um alimento

    Por exemplo
    O gás carbônico
    Que sai dos humanos
    É respirado pelas plantas
    E o oxigênio sai das plantas
    E os humanos o respiram

    Imagem, flor que racha o asfalto

    Se a imagem invocada pelo
    Manifesto manguebeat, caranguejos com cérebro
    É a da antena parabólica enfiada na lama
    Aqui invoco Carlos Drummond
    Em seu poema A flor e a náusea

    Uma flor nasceu na rua!
    Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego
    Uma flor ainda desbotada
    Ilude a polícia, rompe o asfalto
    Façam completo silêncio, paralisem os negócios
    Garanto que uma flor nasceu

    Ou até mesmo uma flor que nasce num bueiro

    Fazendo uma referência não autorizada
    À sagrada flor de lótus
    Que tem suas raízes na lama

    Flores eletrificadas
    Caranguejos com wi-fi
    Rachados no concreto
    O chamado de gaia

    Movimento, perguntas

    Fazer um movimento?
    Ou ser um movimento?

    O que somos
    Quando nos movemos?

    Seríamos móveis?

    Por onde nos movemos?
    Quais linhas percorremos?

    Por caminhos virtuais?
    Por presentes atuais?

    Seria uma questão
    De velocidade
    E lentidão?

    Seria uma questão
    De fronteiras?

    Sim
    Ou
    Não?

    Intempestivo, momento

    Tempestade atemporal
    Um relógio estilhaçado

    Uma mente inebriada
    Pela força de uma flor

    Onde a Lua e o sabor
    Da presença natural
    Faz sentir o
    Entre-tempo
    Onde é sempre
    Atual

    A terra gira
    Redonda
    E a luz e a sombra
    Dançam

    O dia e a noite surgem
    Como palavras humanas

    O frio e o calor
    São sentidos na pele

    Rizoma, conceito

    Um rizoma não começa nem conclui
    Ele se encontra sempre no meio
    Entre as coisas, inter-ser, entreato
    A árvore é filiação
    Mas o rizoma é aliança
    Unicamente aliança
    A árvore impõe o verbo ser
    Mas o rizoma tem como tecido
    A conjunção e, e, e
    Há nesta conjunção força suficiente
    Para sacudir e desenraizar o verbo ser

    É que o meio não é uma média; ao contrário
    É o lugar onde as coisas adquirem velocidade
    Entre as coisas não designa uma correlação localizável
    Que vai de uma para outra e reciprocamente
    Mas uma direção perpendicular
    Um movimento transversal que
    As carrega uma e outra
    Riacho sem início nem fim
    Que rói suas duas margens
    E adquire velocidade no meio


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