Rio Arrepio

Ironia e cultura pop em “Rio Arrepio” de Tom Zé

Em “Rio Arrepio”, Tom Zé utiliza a ironia para brincar com os clichês da bossa nova, ao mesmo tempo em que presta homenagem e questiona o legado do gênero. Expressões como “copacabanamente um arrepio” e “vá botar o credi-cartório para se tostar” satirizam o glamour do Rio de Janeiro e a cultura do consumo, misturando a ideia de cartão de crédito com o hábito de se bronzear nas praias cariocas. Essa abordagem leve e bem-humorada é reforçada por trechos onomatopaicos e síncopes vocais, que remetem ao estilo de João Gilberto, elemento central no projeto de Tom Zé de “desconstruir” a bossa nova.

A letra também destaca figuras femininas importantes da música e cultura brasileira, como Elis Regina, Maysa, Dolores Duran e Leila Diniz, ressaltando a influência dessas mulheres na bossa nova e na boemia do Rio. O verso “nunca a tristeza foi tão feliz” resume a dualidade emocional típica do gênero, onde melancolia e leveza se misturam. Além disso, ao citar celebridades como Brigitte Bardot e Marilyn Monroe, e fazer referência à revista “Playboy” e ao jornal “O Pasquim”, Tom Zé insere um tom de deboche sobre a sexualização e o culto à imagem, sugerindo que o Rio é palco de um desfile constante de ícones e desejos. Assim, “Rio Arrepio” se apresenta como uma crônica musical irônica sobre a bossa nova, o Rio de Janeiro e a cultura pop brasileira.