Senhor Cidadão

Crítica à vida urbana e isolamento em “Senhor Cidadão”

A música “Senhor Cidadão”, de Tom Zé, faz uma crítica direta à desumanização e ao sofrimento do indivíduo na vida urbana. A letra questiona como a sociedade transforma o cidadão em alguém amargo e solitário, destacando o instinto competitivo imposto pelo cotidiano moderno. O verso “tem que ferir ou ser ferido” mostra como a convivência se torna uma luta constante pela sobrevivência emocional e social.

Tom Zé utiliza perguntas incisivas, como “com quantos quilos de medo se faz uma tradição?” e “com quantas mortes no peito se faz a seriedade?”, para mostrar que o medo e a repressão são a base de muitos costumes e valores. Isso sugere que tradição e seriedade social são construídas às custas do sofrimento e da perda de vitalidade. A colaboração com Augusto de Campos, que abre a faixa com o poema “Cidade City Cité”, reforça a ideia da cidade como espaço de multiplicidade, mas também de isolamento e competição. Ao focar no “senhor cidadão”, Tom Zé personaliza a crítica, mostrando que, apesar das semelhanças básicas entre as pessoas — “nossos dentes... da mesma cor, do mesmo barro” —, a vida urbana distancia e endurece os indivíduos, como no verso “os teus não sabem senão morder”. A pergunta “se a tesoura do cabelo também corta a crueldade” ironiza a superficialidade das mudanças externas diante da persistência de comportamentos cruéis. Assim, “Senhor Cidadão” propõe uma reflexão sobre como a sociedade molda pessoas endurecidas, presas a tradições e medos, e questiona se mudanças superficiais são suficientes para romper esse ciclo.