Vieram Três Pra Bater No Negro

Resistência e capoeira em “Vieram Três Pra Bater No Negro”

A música “Vieram Três Pra Bater No Negro”, de Tonho Matéria, aborda de forma direta a resistência do povo negro diante da violência e do preconceito. O verso “Vieram três pra bater no negro / Trouxeram faca, porrete e facão” representa não só a agressão física, mas também as diversas formas de opressão enfrentadas historicamente. A resposta do protagonista, “Troca as mãos pelos pés e os pés pelas mãos”, faz referência clara à capoeira, arte marcial afro-brasileira criada como forma de autodefesa e resistência pelos escravizados. A música exalta a habilidade de transformar o corpo em instrumento de luta e sobrevivência, destacando a capoeira como símbolo de força cultural e resiliência.

O contexto de vida de Tonho Matéria, que superou a pobreza e se tornou mestre respeitado, está presente na narrativa. O trecho “Mil novecentos e sessenta e três / Houve um barraco de arrepiar / A polícia quebrando o calcanhar” remete a episódios de repressão policial e violência institucional, experiências comuns na história de muitos negros no Brasil. O desejo de “beber uma garrafa de cana para adormecer” sugere a busca por alívio diante do sofrimento, mas a canção logo retoma o tom de resistência ao celebrar a capoeira como espaço de união e transformação: “Eu quero viver nessa vida uma grande transformação / De jogar capoeira pelo mundo / E me espalhar pelo chão”. Assim, a música apresenta a capoeira não só como defesa, mas também como caminho de irmandade, orgulho e esperança, reforçando a importância da cultura negra na luta por transformação social.