Penacho

Em “Penacho”, coragem e afeto no lombo do burro companheiro

Em “Penacho”, o herói não é só o peão: é também o burro Penacho, parceiro por quem ele arrisca a vida. Por trás da bravata de “trinta e oito na cintura” e “dinheiro carrego ao maço”, surge um homem que se refugia na viola quando a tristeza pesa. A canção narra as andanças do peão com o animal e celebra a coragem do trabalhador do campo; os versos “Comprei um burro tordio” e “quando eu saio no meu burro, coração duro eu não acho” revelam afeto e orgulho. O nome “Penacho” se liga à crina que “faz cacho” e funciona como insígnia de bravura. Vindo de Tonico e Tinoco, pilares da música caipira, o relato vira retrato direto da cultura sertaneja.

As cenas e objetos constroem esse mundo com precisão: chapéu quebrado, guampa e laço na garupa, espora de aço; o bombacho indica influência fronteiriça. Nos ofícios e gírias, tudo é de lida: “eu compro boiada e vendo”, “Cuiabano pegador”, “dou pealo por baixo” (técnica de laçar), “procuro ataio” (atalho). O auge confirma o perigo do mato: “uma onça perigosa no burro quis dá um abraço” usa “abraço” como ironia para ataque; ele se atira do lombo, puxa o revólver e “estourou quatro balaço” para “sarrvá o meu Penacho”. A coragem aqui é prática, de quem protege o seu. Há também jogo de sentidos: “Deixo coração magoado no lugar aonde eu passo” pode ser fanfarronice de conquistador ou rastro de conflito. O apelido “Tira-Cisma” reforça a imagem de sujeito resoluto, enquanto “nas hora que eu tou mais triste, na viola eu me disfarço” expõe a brecha de sentimento típica da toada de Tonico e Tinoco.