Time To Smile

“Time To Smile” e a alegria que chama companhia sempre

A própria trajetória de “Time To Smile” já condensa sua mensagem: composta em 1966 por Geoffrey Clarkson e Johnny Mercer, só ganhou gravação em 2004 na voz de Tony Bennett. Essa estreia tardia espelha o verso “Any time’s the time to smile” (Qualquer hora é hora de sorrir) — chegou décadas depois, ainda assim na hora certa. Na letra, a ideia é direta e calorosa: um sorriso puxa o outro e vira “a chain reaction” (uma reação em cadeia). Imagens como “When you grin, you let the sunshine in” (Quando você sorri, deixa o sol entrar) tratam o sorriso como uma janela para a luz, mostrando o efeito contagiante da alegria. Essa positividade se alinha ao intérprete: a voz suave de Bennett, com mais de 70 anos de carreira e 20 Grammys, dá à canção um calor humano coerente com o encorajamento do texto.

Há também um charme de época que vira metáfora de cuidado. O trocadilho “We’re playing dial-a-smile” (Estamos no “disque-sorriso”) remete aos telefones de disco dos anos 60 e à ideia de apoio imediato: “Get on the phone whenever you’re gloomy / Call me up and whisper your troubles to me” (Pegue o telefone sempre que estiver abatido / Me ligue e sussurre seus problemas para mim). A ausência de relógios — “There’s not a clock in sight / They’re outta style” (Não há um relógio à vista / Eles estão fora de moda) — reforça que o afeto não tem hora marcada. “Chain reaction” (reação em cadeia) funciona como duplo sentido: além da referência quase científica, descreve o contágio da gentileza. Gravada por Bennett no álbum The Art of Romance, a faixa soa como gesto romântico-amigável de presença constante e, com o legado do artista consolidado até seu falecimento em 2023, ganha peso de atemporalidade: a alegria se espalha quando alguém dá o primeiro passo.