Andar Andei

Mudança e identidade em "Andar Andei" de Torquato Neto

A música "Andar Andei", de Torquato Neto, explora o sentimento de deslocamento e transformação pessoal, temas presentes em sua trajetória e na ligação com o movimento tropicalista. Nos versos iniciais, "não é o meu país / é uma sombra que pende / concreta / do meu nariz", Torquato utiliza a imagem da sombra para expressar um estranhamento em relação ao próprio país. Ele sugere que a identidade nacional é algo que se projeta sobre ele, mas não o define totalmente. Essa sensação de deslocamento aparece também em "não é minha cidade / é um sistema que invento / me transforma / e que acrescento / à minha idade", mostrando que tanto o lugar quanto a própria identidade estão em constante reinvenção.

A música ganha um tom mais melancólico ao abordar o fim de um relacionamento: "não é você / nem sou mais eu / adeus meu bem / (adeus adeus) / você mudou / mudei também". Aqui, Torquato Neto destaca como as mudanças internas e externas são inevitáveis, e como o tempo transforma sentimentos e memórias, como em "a memória do amor passado pode enferrujar o que passou". O trecho "quero dizer / nossa graça / (tenemos) / é porque não esquecemos / queremos cuidar da vida / já que a morte está parida" traz a consciência da finitude e a urgência de viver plenamente, temas recorrentes na obra do autor. No final, versos como "a morte não é vingança / beija e balança / e atrás dessa reticência / queremos / quero viver" reforçam o desejo de viver intensamente, mesmo diante da impermanência e da proximidade da morte.