Talento 3

Identidade outsider e ironia em “Talento 3” de Trash Poll

Em “Talento 3”, Trash Poll, Murasaki e Heittok usam humor ácido e autodepreciativo para criar uma identidade única dentro do rap underground. A repetição de expressões como “gang do autismo” e “gang da anemia” mostra como o grupo se apropria de estigmas sociais, transformando características consideradas marginais em símbolos de pertencimento e resistência. Ao se autodenominarem dessa forma, os artistas desafiam o ouvinte a repensar o que significa ter talento e fazer parte de um grupo, subvertendo rótulos e ironizando a exclusão social.

A música mistura referências à cultura pop japonesa, como em “gang do Talento 3 igual yakuza”, e citações de animes e figuras históricas, como “pique Yu-Gi-Oh!”, “flow explosivo parecendo Nagasaki” e “me sinto Oppenheimer”. Essas menções reforçam o tom irreverente e satírico da faixa. As letras trazem hipérboles violentas, como “eu vou enfiar uma estaca na tua cabeça como se fosse um vampiro” e “corto a cabeça desse puto”, que funcionam como exageros estilísticos típicos do rap, sem intenção literal. O humor aparece também em versos como “minha guitarra é gay, tirei ela do armário”, que brinca com estereótipos e quebra tabus de forma debochada. Ao ironizar a ideia de dom artístico, como em “pra fazer música não precisa de talento e dom? Ah, vai tomar no cu, talento foi meu primeiro som!”, Trash Poll celebra o outsider e desafia as convenções do rap mainstream, usando sarcasmo, referências inusitadas e agressividade performática para afirmar sua identidade.